Que alimentos não são recomendados durante a gravidez?

Comer é um acto que fazemos várias vezes ao dia. Geralmente, a maior dificuldade que encontramos é organizar e estruturar as refeições ao longo do dia e da semana, de modo a que o menu seja variado e saudável.

Quando uma mulher está grávida, isto é agravado por dúvidas sobre qualquer ingrediente utilizado na preparação de um prato, o que constitui uma preocupação adicional.

Durante os primeiros meses de gravidez, pensar nas refeições pode ser difícil, não só devido à desconfiança em relação a certos alimentos, não saber se são seguros ou perigosos durante a gravidez, mas também devido ao desconforto associado, o que altera a rotina alimentar e o apetite.

Isto pode tornar a alimentação monótona ou limitada, e pode comprometer o fornecimento de nutrientes importantes para o desenvolvimento do bebé.

Alimentos a evitar durante a gravidez

Durante a gravidez, a mulher é exposta a muitos componentes ambientais e dietéticos que podem ser perigosos e ter graves consequências para o feto.

Existem dois agentes de origem alimentar: a bactéria Listeria monocytogenes, que se pode reproduzir e sobreviver nos alimentos, e o parasita Toxoplasma gondii, que é transmitido através de fezes de gato e carne de animais infectados.

Ambos são praticamente inofensivos em pessoas saudáveis com um sistema imunitário forte, mas na gravidez, o sistema imunitário está deprimido e as hipóteses de infecção aumentam. A Listeria ou toxoplasma pode causar complicações graves e mesmo fatais para o feto.

No entanto, a infecção pode ser evitada seguindo algumas recomendações simples que lhe darão uma grande segurança. Em geral, deve evitar comer alimentos crus ou mal cozinhados de origem animal. Ou seja, excepto no caso das frutas e legumes, todos os outros alimentos devem ser bem cozinhados no interior para serem seguros.

Vejamos isto com um pouco mais de detalhe:

Lacticínios e produtos lácteos não pasteurizados

É importante não consumir produtos lácteos feitos com leite cru não pasteurizado, tais como queijos frescos ou cremosos (tais como Brie, Camembert, Asadero), queijos bolorentos e queijos curados de leite de ovelha ou cabra.

Para tal, verificar sempre a rotulagem e certificar-se de que são feitos com leite pasteurizado. Em caso de dúvida, ou se for um queijo não rotulado, é melhor não o comer.

Carne não cozida, peixe, frutos do mar e ovos

Para serem seguros para comer, a carne, peixe, marisco e ovos devem ser suficientemente cozinhados no interior para que não sejam rosados ou mal cozinhados.

• Os ovos devem ser colocados em preparações tais como omeletes, ovos mexidos, ovos estrelados, etc. As preparações que contenham ovos crus ou mal cozidos, tais como maionese caseira, entre outras, devem ser evitadas.
• As preparações cruas ou fumadas, tais como ostras, sushi, carpaccio, salmão fumado, tártaro ou ceviche de peixe, bem como patês frios, podem conter parasitas ou bactérias, tais como listeria ou anisakis. São, portanto, considerados inseguros e devem ser evitados durante a gravidez.
• Da mesma forma, os alimentos curados, tais como presunto ou salsichas, não foram submetidos a tratamento térmico, pelo que não há garantias de que estejam livres de toxoplasma.

Estudos mostram que o processo de cura pode inactivar os quistos de toxoplasma, dependendo do tempo de maturação, temperatura de armazenamento e concentração de sal no processo. Da mesma forma, o congelamento de enchidos a -20 graus durante três dias também parece inactivar os quistos de toxoplasma.

No entanto, devido aos múltiplos factores de influência, é aconselhável evitar o consumo de salsichas curadas durante a gravidez.

A forma segura de os consumir é cozinhá-los até que sejam fumados ou incorporá-los em preparações a serem cozinhadas, tais como pizzas, tartes ou recheios de croquete.

Outros alimentos processados, tais como presunto cozido ou peito de peru, são seguros.

• O peixe é um alimento muito saudável, especialmente o peixe gordo, devido ao seu elevado teor de gordura ómega 3. No entanto, deve estar ciente de que as espécies grandes com um elevado teor de gordura acumulam mais mercúrio.

Dada a toxicidade desta substância, a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) recomenda que as mulheres grávidas evitem comer espadarte/emperador, atum rabilho, lúcio e derivados de tubarão.

Frutas cruas, legumes e verduras

Os vegetais e as frutas são alimentos muito saudáveis, mas podem ser contaminados pelo contacto com o solo e os excrementos dos animais. Vejamos como manusear correctamente os alimentos crus para que os vegetais sejam alimentos seguros nas suas refeições diárias:

• Lavar as mãos antes de começar a cozinhar, e depois de manusear qualquer alimento cru.
• Lave bem as frutas e legumes sob água corrente, independentemente da forma como os vai comer.
• Pode utilizar algumas gotas de um produto desinfectante de qualidade alimentar para embeber vegetais crus e depois enxaguar com água em abundância.
• Desinfecte todos os utensílios e superfícies de trabalho (facas, pranchas de corte, tampos de trabalho, etc.) com sabão e água, bem como as suas mãos e unhas depois de estar em contacto com alimentos crus (carne, peixe, marisco, fruta e vegetais).
• Se tiver um gato em casa, certifique-se de que outra pessoa está encarregada de mudar o solo e de estar em contacto com as fezes.

Quanta quantidade de café posso beber por dia durante a gravidez?

Se estiver habituado a beber café durante a gravidez, não tem de desistir. Estudos recentes mostram que um consumo de duas chávenas de café por dia (até 200 mg de cafeína) não representa um risco para o bebé, enquanto quantidades mais elevadas estão associadas a um peso mais baixo à nascença.

Parece razoável moderar o consumo de bebidas com cafeína durante a gravidez e procurar alternativas descafeínadas ou outras bebidas.

Que chás de ervas não devem ser bebidos durante a gravidez?

Os chás de ervas, sendo "naturais", parecem ser uma boa alternativa ao café, por exemplo, mas é de notar que natural não é sinónimo de inofensivo.

Uma infusão é uma extracção de uma planta, botão, flor ou caule concentrado em água. Neste processo, são obtidas substâncias (princípios activos) que têm um efeito específico no corpo (relaxante, estimulante...) e algumas delas, em certas concentrações, podem ser perigosas para o feto.

Além disso, os chás de ervas e ervas medicinais não são submetidos a controlos de segurança, pelo que os efeitos secundários que podem causar ou a presença de metais pesados são desconhecidos.

Alguns deles, tais como aloé vera, pennyroyal, dente-de-leão, sálvia e ginseng, não são recomendados devido ao seu potencial tóxico e abortivo.

Além disso, no caso de tratamento crónico, alguns chás de ervas podem interferir com a eficácia e segurança do medicamento.

O que acontece se eu beber álcool e fumar durante a gravidez?

Evitar o consumo de álcool e tabaco durante a gravidez é a intervenção mais eficaz para melhorar a saúde das mães e dos seus bebés.

• Não se conhece um consumo mínimo seguro de álcool durante a gravidez. Qualquer quantidade, por pequena que seja, pode ser perigosa para o feto, especialmente durante o primeiro trimestre de gravidez, quando os órgãos do bebé estão a desenvolver-se.
• Os efeitos do fumo são dose-dependentes, ou seja, quanto maior for o consumo, maior será o efeito sobre o bebé. Por esta razão, é sempre aconselhável pedir ajuda para deixar de fumar durante a gravidez.

Em suma, a gravidez é um período em que existem muitas dúvidas e receios sobre o que uma mulher pode comer e o que pode prejudicar o seu bebé em desenvolvimento. Saber cozinhar e manusear alimentos com segurança e concentrar-se nas alternativas saudáveis que existem são as chaves para desfrutar desta fase também em termos de alimentos.

Maria Marqués-Feliu
Dietista-nutricionista para mães e crianças (col NA105)
Conselheiro de aleitamento materno
www.mamanutricionylactancia.com
@mariamarques.nutrition