Pré-eclâmpsia: uma doença da gravidez

A pré-eclâmpsia é um transtono que se pode apresentar durante a gravidez e que deve estar sob controlo, porque pode evoluir e ter consequencias para a mamã e para o bebé.
Com a colaboração do Dr. Alberto Rodríguez Melcón
Chefe da Obstetrícia Clínica no centro Dexeus Mujer
Uma coisa é certa: a pré-eclâmpsia é uma condição séria, que se deve ter sob controlo estrito, porque pode degenerar rapidamente e ter consequências graves para o mamã e para o bebé. É uma patologia tão antiga como a humanidade, mas a ciência ainda não conseguiu descobrir as suas causas e mecanismos desencadeantes.
A pré-eclâmpsia é uma doença da gravidez que provoca um aumento da pressão sanguínea e das proteínas na urina. Geralmente aparece no último trimestre de gravidez, a partir da 34ª semana, ou mesmo no período pós-parto. A pré-eclâmpsia é considerada uma condição grave que, uma vez diagnosticada, irá piorar à medida que a gravidez progride.
Investigações mais recentes, no entanto, demonstram que um tratamento à base de heparina e aspirina em doses reduzidas pode diminuir o risco de se sofrer de pré-eclâmpsua na categoria de mamãs de risco. Para as demais, é fundamental realizar controles frequentes de tensão e análises de urina, seguindo as indicações do ginecologista, que se baseiam também no historial clínico da futura mamã e na possível presença de fatores de risco. Nos dias de hoje, ainda é necessário alertar para o diagnóstico precoce como forma de reduzir os efeitos nocivos.
Uma em cada dez mulheres grávidas sofre com isso. Mas como sabe se o tem, quando deve consultar um médico e pode ser evitado? Aqui está um guia prático de tudo o que precisa de saber sobre pré-eclâmpsia.
Em que consiste a pré-eclâmpsia
- A pré-eclâmpsia pode apresentar-se depois das 20 semanas de gravidez e manifesta-se com um aumento repentino da tensão arterial associada à proteinúria, ou seja, a uma concentração anómala de proteínas na urina.
- No passado, entre os sintomas típicos desta doença, incluia-se também o inchaço das extremidades inferiores, mas isto já não é tido em conta, porque a menudo também se apresenta nas gravidezes fisiológicas.
- Por vezes, a pré-eclâmpsia manifesta-se de forma grave, outra vezes, apresenta-se mais leve, mas a sua evolução é imprevisível. Se não está controlada, pode ter consequências muito graces: deprendimento da placenta, insuficiência renal aguda, edema pulmunar, hemorragia cerebral e convulsões.
- Em Portugal, a incidência da pré-eclâmpsia é de apenas 2% das gravidezes. Nos Estados Unidos, no entanto, alcança dos 5%: com frequência deve-se à obesidade da futura mamã e à resistência à insulina e apresenta-se, sobretudo, nas últimas semanas da gravidez. Neste caso, a obesidade não está tão difundida e a pré-eclâmpsia associa-se. algumas vezes, a uma trombofilia da mãe, uma patología congénita dos mecanismos de coagulação do sangue.
- Outros fatores de risco são a hipertensão materna anterior à gravidez, doenças cardiovasculares e, às vezes, precedentes familiares. A pré-eclàmpsia é mais frequente nas gravidezes gemelares e nas primeiras gravidezes.
Sintomas de pré-eclâmpsia
A doença é geralmente diagnosticada através de testes de urina e verificação da pressão sanguínea. Quais são os sintomas mais comuns?
- Normalmente causa sintomas como mal-estar, dor de cabeça, náuseas, vómitos e visão turva.
- Independentemente da gravidade da doença, na maioria dos casos, ocorre inchaço do rosto, das mãos e dos tornozelos.
- A pré-eclâmpsia pode ocorrer sem inchaço.
Causas que favorecem o seu aparecimento
De certa forma, a pré-eclâmpsia é uma doença enigmática para os médicos, uma vez que as causas precisas do seu aparecimento não são conhecidas.
Contudo, foram identificados factores que favorecem o seu desenvolvimento.
- Uma delas é a idade da mãe, quer ela tenha menos de 20 ou mais de 40 anos.
- A gravidez com gémeos, sendo negra, a herança genética e o desenvolvimento de pré-eclâmpsia numa gravidez anterior são outros factores que favorecem o seu aparecimento.
- Diabetes, doenças renais, excesso de peso e hipertensão também podem desempenhar um papel.
Diagnóstico da pré-eclâmpsia
- Uma condição de pré-eclâmpsia é diagnosticada quando uma mulher grávida tem uma tensão arterial igual ou superior a 140/90 mm Hg, ou um aumento súbito de pelo menos 30 mm Hg da pressão mínima (diastólica) e 15 mm Hd da pressão máxima (sistólica), acompanhada de proteinúria (concentração de proteína na urina superior à média).
- Esta condição indica um mau funcionamento dos capilares dos rins, que são incapazes de reter as proteínas no sangue e de as expelir na urina.
- Os ginecologistas aconselham que cada mãe grávida deve ter a sua tensão arterial verificada e urina testada regularmente, mesmo na ausência de desconforto ou desconforto. Estes testes devem ser realizados ainda mais frequentemente se forem detectados sintomas de possível pré-eclâmpsia: dor de estômago, dor de cabeça grave e persistente, e visão deficiente.
Tratamento da pré-eclâmpsia
- O único sistema realmente eficaz para tratar a pré-eclâmpsia é dar à luz. Normalmente, depois do parto, a doença diminui de forma progressiva e espontânea. Quando se manifestamente de forma precoce, antecipar o parto comporta alguns riscos para a saúde do bebé, que ainda não completou o seu crescimento.
- Nestes casos, o objetivo dos tratamentos é bloquear a progressão da patologia e ter sob control as condições da mãe, para permitir que o feto alcance um nível de desenvolvimento compatível com o nascimento e sua sobrevivência.
- As prescrições para a futura mamã que tem pré-eclâmpsia são: repouso absoluto, controles frequentes e medicamentos anti-hipertensivos que não comportem riscos para o bebé. Se a situação piora, a paciente deve ser hospitalizada para ter sob controlo as suas condições e, em caso de necessidade, que seja induzido o parto. Se o seu estado de saúde não melhora após o nascimento do bebé, é possível que seja tratada com medicação mais forte.
- Em caso de hospitalização, é muito importante que a futura mamã esteja numa estrutura especializada, com as ferramentas necessárias para realizar uma cesariana de urgência, assistência ao recém-nascido prematuro e uma eventual reanimação da mãe.
- Para além de aumentar o risco de parto premuto, a doença altera o funcionamento da placenta e dificulta a passagem de oxigénio e substâncias nutritivas para a mamã e bebé. Esta condição pode comportar uma desaceleração do crescimento da criança, que pode estar com peso a menos no momento do nascimento. Esta possibilidade aumenta se a doença surge precocemente.
- Por outro lado, segundo o Dr. Alberto Rodríguez Melcón, Chefe da Secção de Obstetrícia Clínica do centro Dexeus Mujer, "graças ao facto de estarmos cada vez mais concentrados na detecção precoce de casos em risco de pré-eclâmpsia, podemos recorrer à administração de aspirina de dose baixa, o que pode reduzir o risco de pré-eclâmpsia, contudo, uma vez que os sintomas aparecem, tomar aspirina já não é benéfico e não evita as complicações associadas".
- É também importante estar ciente de que, nas palavras do Dr Rodríguez Melcón, "a pré-eclâmpsia é uma doença com um elevado risco de recorrência numa nova gravidez. Por esta razão, após uma gravidez complicada por pré-eclâmpsia, é muito importante que, se desejar voltar a ser mãe, planeie a nova gravidez sob supervisão médica".
Check-ups regulares
A melhor maneira de controlar o risco de desenvolver pré-eclâmpsia é fazer regularmente testes de urina para determinar o nível de albumina e medições de pressão sanguínea. Ambos os testes podem normalmente detectar a condição precocemente, minimizando assim os riscos para o bebé e para a mãe.
No caso da doença, a hospitalização da futura mãe pode ser necessária para uma maior segurança e supervisão médica.
É necessária uma secção de cesariana?
No caso de pré-eclâmpsia, se houver abrupção da placenta ou se os médicos observarem que existe um risco de sofrimento para o bebé, pode ser necessária uma cesariana, mesmo que a data devida esteja a várias semanas de distância. Cabe aos médicos decidir, sempre com a saúde do bebé e da mãe em mente.
Vale a pena lembrar que o risco de parto prematuro com pré-eclâmpsia é muito menor à medida que a gravidez progride.
Dicas de prevenção da pré-eclâmpsia
Há factores de risco que tornam mais provável a pré-eclâmpsia, tais como a hipertensão arterial crónica, a gestação gemelar, a obesidade e certas doenças auto-imunes. Embora as causas da pré-eclâmpsia ainda não tenham sido claramente identificadas, existem formas de a prevenir:
- Não ganhe mais peso do que o recomendado, seguindo uma dieta saudável, variada e equilibrada.
- Exercitar-se todos os dias para melhorar a circulação sanguínea.
- Reduzir drasticamente a ingestão de sal às refeições.
- Evitar o stress, levando uma vida tranquila.
- Actualmente, o foco está na detecção precoce de doentes que possam ter pré-eclâmpsia grave. Para este fim, são utilizadas "calculadoras de risco" para avaliar cada caso.
Eclâmpsia, trombofilía e gestose: o que são
- Eclâmpsia: grave complicação na gravidez que se manifesta com convulsões e possíveis danos cerebrais. A pré-eclâmpsia tem este nome porque é uma condição que precede a eclâmpsia.
- Trombofilía: tendância a uma excesiva coagulação do sangue e formação de trombos. A trombofilía congénita é um fator de risco para a pré-eclâmpsia.
- Gestose: é a antiga designação de pré-eclâmpsia. Há alguns anos que este termo já não se usa nas publicações científicas, ainda que alguns sigam utilizando este termo inapropriadamente.
A opinião do especialista: Que medidas devem ser tomadas em caso de pré-eclâmpsia?
O Dr. Alberto Rodríguez Melcón, Chefe da Secção de Obstetrícia Clínica no centro Dexeus Mujer, fala-nos das medidas a tomar com a mulher grávida no caso de ser diagnosticada com pré-eclâmpsia:
- Uma vez diagnosticada a doença, o foco deve ser a monitorização do bem-estar fetal e a monitorização do estado materno.
- Se for necessário baixar a tensão arterial, são administrados os mesmos medicamentos utilizados para tratar a hipertensão. Nos casos mais graves e precoces, o paciente terá de ser internado no hospital para monitorização.
- Se houver risco de convulsões (neste caso, eclâmpsia), é administrado um fármaco que é muito eficaz na sua prevenção.
- É importante monitorizar o crescimento fetal, pois não é raro que a pré-eclâmpsia esteja associada a baixo peso fetal ou atraso do crescimento intra-uterino.
- Todas estas complicações indicam que a doença progrediu e que é necessário interromper a gravidez. Não o fazer pode resultar em complicações graves tanto para a mãe como para o bebé.