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Mindful eating: ensine o seu filho a comer de forma consciente

Já ouviu falar em mindful eating? Esta técnica permite-nos ligar-nos aos nossos próprios sentimentos de fome e saciedade, e alimentarmo-nos apenas quando precisamos, confiando na nossa sabedoria interior. Vamos aprender mais sobre os princípios da alimentação consciente com o psicólogo e nutricionista Itziar Digón.
Mindful eating ou alimentação consciente é uma forma de comer que envolve comer em contacto com as sensações de fome, sede ou saciedade, respeitando a própria sabedoria interior do corpo.
A alimentação consciente nas crianças é inata. Até aos 3-4 anos de idade, as crianças comem de forma muito intuitiva: sabem quando o seu estômago está vazio e precisam de o comer e reabastecer, e quando o seu estômago está cheio e calmo e está na altura de parar de comer.
A partir desta idade, pode acontecer que esta relação natural com os alimentos seja distorcida por demasiadas regras, ou por recompensar ou punir com alimentos.
É tempo de começar a trabalhar com técnicas que ajudem as crianças a manter-se em contacto com as necessidades do seu corpo, a modificar as suas mensagens para as mais positivas e a trabalhar com responsabilidade, para que, em casa, haja, acima de tudo, comida verdadeira e a criança se familiarize com este tipo de alimentos.
Benefícios do mindful eating para as crianças
Incentivar a alimentação consciente nas crianças permite-lhes tomar consciência da sua capacidade inata de comer de uma forma positiva e saudável. O reconhecimento de que têm esta sabedoria interior estimula-os e aumenta a sua confiança.
Além disso, encorajar uma alimentação consciente no ambiente familiar promove geralmente escolhas alimentares mais saudáveis e menos consumo de junk food. Consequentemente, a alimentação atenta ajuda a prevenir problemas de peso e distúrbios alimentares.
Ao contrário daquilo a que estamos habituados, a alimentação atenta não estabelece regras, embora seja firme. Permite às crianças comer por confiança e não por medo, permitindo-lhes aprender a auto-regular a sua ingestão e a fazer escolhas alimentares positivas para si próprias.
Como é que as emoções influenciam as crianças quando se trata de comer?
A partir da idade de 3-4 anos, é normal que as crianças sucumbam a outros estímulos que as levem a querer comer opções menos saudáveis.
Na sociedade em que vivemos, onde as entradas de alimentos são constantes, é muito fácil para a comida tornar-se uma fonte de prazer para além da necessidade de comer.
Para evitar este tipo de relação com os alimentos, é muito importante ensinar às crianças a diferença entre comer por fome (quando o seu estômago está vazio) ou outros estímulos (ver alimentos atraentes, ser recompensado através da comida, estar aborrecido e querer entreter-se com a comida, etc.).
As mensagens que os pais utilizam para comunicar esta diferença são fundamentais. Estamos habituados a dar estas mensagens da norma e do negativo: "Não comas isso, não é saudável", "Não comas isso porque já vamos comer".... Mas, desta forma, a única coisa que conseguimos é aumentar o desejo de comer da criança.
Então porque não usar antes mensagens que os façam ligar com as necessidades do seu próprio corpo? Por exemplo: "Compreendo que te sintas atraído por esta comida, mas achas que esta é a melhor altura para a comer?", "O teu corpo precisa mesmo disso agora?" ou "Na festa, vais encontrar alimentos muito atraentes; escolhe aqueles de que mais gostas e desfruta-os mais sem ficares com dor de barriga mais tarde".
Como ensinar a alimentação consciente às crianças?
Uma boa maneira de as crianças aprenderem a comer com cuidado é dividir as responsabilidades alimentares entre pais e filhos.
A responsabilidade dos pais é decidir O QUÊ comer: ou seja, QUE alimentos estarão em casa, COMO serão cozinhados e ONDE serão comidos (em casa ou num restaurante). Não é portanto da responsabilidade das crianças escolher a comida que vai para dentro de casa.
No entanto, isto não significa que a opinião da criança não deva ser tida em conta. Por exemplo, pode perguntar-lhes que alimentos especiais querem para o seu aniversário ou se preferem que compre peras, maçãs ou melancia como fruta nessa semana.
Garantir a presença de alimentos reais e evitar produtos alimentares é vital para que as crianças comam bem agora e no futuro. É muito comum cometer o erro de comprar produtos feitos exclusivamente para crianças (produtos lácteos, bolachas, bebidas, preparações de carne ou peixe, etc.). Na realidade, porém, o que as crianças precisam é de alimentos verdadeiros e nutritivos (vegetais, fruta inteira, peixe e carne frescos, etc.).
Além disso, é importante que as crianças acompanhem os seus pais na compra destes produtos e que conheçam a sua história ou origem: por exemplo, que saibam que os morangos que estão a comer foram colhidos num pomar.
Pela sua parte, é da responsabilidade da criança respeitar a necessidade de alimentação do seu corpo. Portanto, encorajem os vossos filhos a ouvir o seu próprio corpo, a comer quando sentem sinais de fome e a parar de comer quando notam que o seu corpo não precisa de mais comida.
Claro que, por vezes, é difícil respeitar estes papéis, ou porque você ou o seu filho está cansado, ou porque não quer entrar numa discussão com o seu filho. Também pode ser frustrante quando o seu filho não satisfaz as suas expectativas de "comida perfeita", quer devido a pressão externa, quer devido à sua própria. No entanto, na medida do possível, é importante manter estes limites.
Como pais, precisamos de observar e aceitar a natureza do seu filho em relação à alimentação (quer ele ou ela esteja curioso sobre ela, tenha prazer nela, ou coma apenas o suficiente para ser alimentado) a fim de adaptar a educação alimentar que fornecemos.
O estomagómetro: um exercício prático
O instrumento do estomagómetro é um instrumento básico para ensinar as crianças a não perderem o contacto com a sabedoria interior do seu estômago, e para identificar os seus sentimentos de fome e saciedade.
É uma técnica que requer formação e pode ser aplicada como uma família. O estomagómetro actua como um sensor: antes de cada refeição, faça o exercício STOP para verificar o interior do seu estômago. Se eu pudesse falar consigo, o que diria, de 1 a 10?
- Estou com muita fome, o meu estômago está totalmente vazio!
- Estou com muita fome, mas posso esperar até que a comida esteja pronta.
- Estou com um pouco de fome, mas posso esperar.
- Oops, a minha fome está a começar, mas ainda não preciso de comer.
- O meu estômago está calmo.
- Sinto o meu estômago a encher-se de gás.
- O meu estômago está quase cheio. Há espaço para mais comida ou devo deixá-lo como está?
- Cheio e pesado. Eu poderia ter comido menos.
- Demasiado cheio. Sinto-me desconfortável.
- Dói-me o estômago por estar tão cheio. Eu não deveria ter comido tanto.
Para facilitar a ferramenta, no início, pode tomar como referência apenas os valores dos pontos 1, 5, 7 e 10.
O medidor de estômago pode ajudá-lo a perceber quando precisa de parar e "reabastecer" nos níveis 1 a 4; ajudá-lo a sentir o estômago a ficar cheio nos níveis 5 a 7; e ajudá-lo a parar de comer antes de se sentir cheio e desconfortável por ter comido demasiado nos níveis 8 a 10.
Itziar Digón
Psicóloga e Nutricionista
www.itziardigon.com